Reportagem muito importante!
De todos os serviços que não fazem parte do escopo clássico de limpeza urbana e que já foram atribuídos à Comlurb como por exemplo: gestão de postos salva vidas; entrega de remédios e preparo de alimentos em escolas; certamente a limpeza hospitalar é a mais especializada e realemente um diferencial.
Equipe composta por 75 profissionais, todas mulheres, é responsável pela atividade em três das 11 unidades da rede municipal de saúde. Nas demais a missão é de empresas particulares
Por Geraldo Ribeiro — Rio de Janeiro
Há 20 anos, a gari Ana Paula Guimarães, de 37, deu luz à sua filha Melissa, que nasceu prematura, aos sete meses, pesando 1,7 kg e precisou ficar um mês na incubadora de uma maternidade pública em Campo Grande, na Zona Oeste, até poder ir para casa no mesmo bairro. Duas décadas depois e com mais uma filha, Manuela, de 16, a mãe faz parte de uma equipe composta por 75 profissionais da Comlurb responsáveis por um trabalho delicado e pouco conhecido pela população em três das 11 maternidades da rede municipal de saúde: a montagem, desmontagem e limpeza do aparelho que foi fundamental para sobrevivência de sua filha no começo da vida dela.
— Minha filha, hoje com 20 anos, ficou um mês na incubadora da unidade neonatal do Rocha Faria. Era uma equipe terceirizada que fazia a limpeza. Hoje eu percebo a importância desse trabalho. De certa forma a gente contribui para que nada aconteça de errado com os bebês e que eles possam receber alta logo, que é o momento mais feliz para toda mãe — afirma a gari.
As incubadoras são aparelhos que fornecem um ambiente com temperatura controlada para crianças recém-nascidas e prematuras, consideradas fundamentais para o desenvolvimento delas. Por se tratar de bebês mais fragilizados, todos os cuidados precisam ser tomados no processo de limpeza para evitar infecções, o que torna especial o trabalho das garis treinadas por instrutores qualificados e com experiência operacional nesse tipo de atividade, que no restante da rede é realizado por empresas particulares.
Na rotina diária das equipes de higienização está a chamada limpeza concorrente, que é feita dentro da unidade neonatal, na presença das mães, e na parte externa das incubadoras, com o bebê dentro do aparelho. Na Maternidade Leila Diniz, na Barra da Tijuca, onde Ana Paula trabalha há 14 anos, a tarefa é feita pelo menos duas vezes ao dia. As profissionais usam um pano embebido com desinfetante hospitalar para cada equipamento e o mesmo é descartado após uso, para evitar a chamada infecção cruzada, que é levada de uma superfície para outra.
As equipes executam também uma outra tarefa mais complexa que consiste na desmontagem completa das incubadoras, com retirada de todas as peças, para uma higienização com água, detergente neutro e desinfetante hospitalar. O trabalho é feito numa sala separada da unidade neonatal, e acontece quando o aparelho é desocupado, seja por óbito, transferência do recém-nascido para outro setor ou unidade, na rotina de troca que acontece a cada sete dias ou alta.
O trabalho é feito por duplas e nunca dura menos do que 40 minutos. Enquanto uma profissional faz a desmontagem outra procede a limpeza das peças menores. Após a conclusão, as partes são higienizadas com desinfetante hospitalar e recolocadas no lugar pelas próprias garis. Os terminais então são identificados com nome da profissional e a data em que a limpeza foi realizada.
— É um trabalho essencial. Elas sabem limpar de uma forma que a gente não sabe. É uma atividade muito específica e elas são treinadas para executar. Elas também nos auxiliam relatando que há necessidade de substituição de peças danificadas. Isso ajuda muito no processo de manutenção preventiva — explica a médica Daniele Demura Bise, coordenadora da unidade Neonatal da Maternidade Leila Diniz, onde o trabalho é feito por um time de oito mulheres, duas por plantão .
As profissionais da Comlurb são responsáveis pela limpeza das incubadoras também na Maternidade Maria Amélia Buarque de Holanda, no Centro, e na unidade neonatal do Hospital Miguel Couto, no Leblon. Recentemente elas foram chamadas para atuar também nas maternidades Carmela Dutra, no Méier, e Fernando Magalhães, em São Cristóvão, temporariamente, enquanto não era renovado os contratos das duas unidades com a empresa prestadora responsável pelo serviço.
— A parceria com a Comlurb vem de uma longa data. Existe um senso de pertencimento da companhia. A UTI é a joia da coroa, nosso bem mais precioso e elas (as garis) fazem parte desse time. Podem parecer invisíveis para uns, mas são muito importante e fazem toda a diferença para a gente — aponta Fátima Penso, a coordenadora médica da Leila Diniz, que possui 29 leitos e 35 incubadoras em sua unidade neonatal.
As garis responsáveis pela função são integrantes das equipes limpeza hospitalar, que também tem homens, e , diferentemente, dos garis que atuam nas ruas, com a limpeza urbana, são identificadas por um uniforme de cor azul. Todos passam pelo mesmo treinamento, inclusive os que não lidam com as incubadoras na sua rotina diária. O objetivo é facilitar os casos de necessidade de substituição, seja por folga, doença ou férias.
— Muita gente desconhece esse trabalho das garis, até mesmo porque a cor do uniforme das equipes de limpeza hospitalar é diferente. A tarefa é executada por profissionais concursadas e com muitos anos de experiência, que recebem treinamento anual e orientações diárias. O diferencial está nos cuidados com o detalhe e a paciência. Não é um trabalho rápido e exige muita atenção e respeito aos protocolos, para não acarretar na contaminação do recém-nascido. Por isso toda atenção deve ser redobrada — explica Josué Bastos coordenador especial de diretoria da Comlurb.
Amélia Regina Campos, de 56 anos, há 10 na Comlurb, não teve filhos. Mas, a sensibilidade feminina ajuda compreender a importância do trabalho que faz na Leila Diniz. Ela conta que inicialmente tinha receio de ir para a equipe que atua nos hospitais, por medo de ver sangue. Porém, ao começar a trabalhar com a limpeza de incubadoras se apaixonou pela missão:
— Fui vendo como é importante e continuo a fazer com prazer. Afinal, estamos lidando com vidas.
Sua colega Poliana da Costa Oliveira, de 34 anos, 11 de Comlurb e a um ano e meio na limpeza de incubadoras na Maternidade Maria Amélia Buarque de Holanda, também se orgulha do que faz.
— Nosso trabalho é importante porque fazendo bem feito conta muito para a alta mais rápida dos bebê — diz a mãe de um menino de sete anos, que antes de trabalhar na maternidade fazia limpeza em escolas.
Roberta Soares da Silva, de 24 anos, moradora da Muzema, acha que esse tipo de cuidado complementa a ação dos médicos.
— A higienização do ambiente hospitalar é muito importante. Me deixa mais tranquila ver que é um trabalho feito com cuidado, dedicação e carinho— afirma a mãe de Maria Júlia, nascida no último dia 18, aos oito meses de gestação e pesando 1,5kg.
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