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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Lixo, um problema que precisa ser descartado

Publicada em 27/02/2009 às 23h28m O Globo

Apesar do pedido pintado no muro para que as pessoas não joguem lixo na rua, detritos são despejados ao ar livre. Foto: Eurico Dantas - Agência O Globo - Arquivo
RIO - A coleta de lixo no Rio é responsável por um dos melhores indicadores municipais: de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, 99,7% dos lares contam com esse serviço. Mas o Rio Como Vamos (RCV) lembra que a geração e o destino final dos resíduos sólidos da cidade são uma grande preocupação e geram debates calorosos entre governantes e ambientalistas. Para se ter uma dimensão do problema, somente as feiras livres da cidade produzem, segundo a Comlurb, 1.700 toneladas de detritos por mês. É mais do que todo o lixo domiciliar dos bairros de São Cristóvão e Benfica juntos. Na avaliação do RCV, além de pensar em alternativas para que a sujeira não prejudique o meio ambiente, as autoridades precisam incentivar a redução da produção de lixo na cidade.
Pesquisa de percepção encomendada pelo RCV ao Ibope, no ano passado, mostrou que a nota dada para a coleta de lixo no Rio era 8,6, a maior pontuação entre todos os serviços públicos avaliados. Mas a preocupação do carioca com o descarte de seus detritos ainda é pequena: segundo dados da Comlurb, 40% do lixo produzido ainda é jogado nas ruas.
Lixo produzido na cidade aumentou 36% em 12 anos
De acordo com informações coletadas pelo RCV, em 12 anos a média diária de lixo depositado em aterros no Rio aumentou 36%, passando de 6.443 toneladas em 1995 para 8.779 em 2007. Levando-se em conta apenas o lixo domiciliar coletado pela Comlurb, cada carioca gerou em 2007 mais de 20 quilos por mês. Na Região Administrativa (RA) do Centro, que concentra muitos escritórios e restaurantes, foi verificado o maior índice: 74 quilos por mês, ou seja, quase 2,5 quilos por dia.
Entre 2003 e 2007, o Rio teve um crescimento do lixo domiciliar per capita de 8,9%. Agrupando-se os dados pelas Áreas de Planejamento (AP) do município, percebe-se que a AP1 (que engloba as RAs de Centro, São Cristóvão, Rio Comprido, Paquetá, Santa Teresa e Zona Portuária) apresentou o maior crescimento per capita, 21,85%. Já a Zona Norte teve o menor aumento, apenas 1,6%.
- O percentual baixo pode estar relacionado aos lixões a céu aberto, que contaminam o solo e os lençóis freáticos - diz Laura Domingues, coordenadora executiva do RCV.
O lixo coletado no município do Rio é levado para dois aterros: o de Gramacho, em Caxias, e o de Gericinó. Em operação desde a década de 70, o de Gramacho recebe cerca de 6.300 toneladas de detritos por dia, segundo o diretor técnico-industrial da Comlurb, Álvaro Cantanhede:
- Semana passada, recebemos o estudo de uma empresa informando que, mantendo o controle, o aterro de Gramacho poderá ter um prazo útil de cinco anos - disse o diretor.
Coleta seletiva é realizada em 41 bairros do Rio
De acordo com o RCV, uma solução para o destino final do lixo seria a criação do aterro de Paciência, na Zona Oeste. Licitado em 2003, ele ainda depende de liberação da Justiça. Laura Domingues lembra que, em janeiro, o prefeito Eduardo Paes anulou a licitação e criou uma comissão formada por representantes das secretarias da Casa Civil, do Meio Ambiente, de Urbanismo, da Procuradoria, da Controladoria Geral do Município e da Comlurb, para apresentar, em 90 dias, soluções para o destino e o tratamento do lixo. Em campanha, Paes sugeriu levar o lixo para Nova Iguaçu.
- A discussão enveredou por um caminho político e o desejável seria a população ter acesso a um parecer técnico sobre o assunto. O lixo é produzido por todos os cidadãos, independentemente do local de moradia, e, neste sentido, deveria haver mais transparência na gestão de resíduos - diz Laura
Atualmente, a Comlurb faz coleta seletiva em 41 bairros da cidade, uma vez por semana. Mas, para o RCV, este número deve aumentar depois que a lei municipal 4.969/08 for regulamentada. O texto diz que todos os geradores de resíduos sólidos devem separar e acondicionar o lixo no local de sua produção, em prazo a ser fixado pelo Poder Executivo, não superior a quatro anos, a partir da publicação da lei. E, nos próximos dias, o Conselho Municipal de Meio Ambiente deverá recomendar ao governo a adoção da coleta seletiva pelos órgãos da administração direta e indireta, num prazo de 180 dias.
- A princípio, tudo o que não é reaproveitado é um desperdício de tudo o que foi empregado na sua produção: matéria-prima, energia, transporte etc. Todavia, há quem questione a adoção da reciclagem. Alguns especialistas dizem: até que ponto as fábricas de reciclagem não poluem mais ou consomem mais energia do que se está economizando? - lembra Laura.