Allan Borges e Irene Ciccarino
Nos últimos anos, houve um crescimento do debate sobre a incorporação de critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) nas empresas. Cada vez mais, investidores e consumidores exigem que as organizações sejam sustentáveis a partir de práticas materialmente relevantes, socialmente responsáveis e ambientalmente adequadas. Entretanto, o ESG não é uma garantia para a legitimidade do compromisso com a sustentabilidade.
Greenwashing (lavagem verde) é a prática de simular imagem ambientalmente positiva ao disfarçar ou omitir atributos, práticas ou efeitos negativos. Muitas vezes, o exagero do potencial benéfico encobre a irrelevância do que foi alardeado, se forem considerados outros aspectos deixados propositalmente de fora.
É dissonância entre o que é divulgado e a realidade. Empresas e países que continuam a usar e investir em combustíveis fósseis enquanto se posicionam como verdes devido a investimento em energia renovável; ou o anúncio de produtos supostamente “verdes”, mas que usam insumos de fornecedores que não têm essa preocupação e criam impactos ambientais, cuja utilização do produto gere descarte precoce e aumento de lixo, como é o caso de muitas empresas da indústria da moda acessível (fast-fashion).
Como é difícil estabelecer se a prática foi ou não deliberada, ações para impedir greenwashing dependem em grande parte da repercussão negativa da denúncia. A falta de orientações consensuais sobre como impedir a prática faz com que o escrutínio e a denúncia tenham papel fundamental na prevenção. Estratégias alinhadas ao ESG são uma forma legítima de se fazer a transição para práticas sustentáveis.
Melhores decisões são tomadas ao se levar em conta fatores ambientais, sociais e de governança em suas operações. Por outro lado, a dificuldade de rastrear e de comparar as diversas governanças socioambientais pode levar ao greenwashing. Alardear ESG é atalho para a construção de imagem pública favorável capaz de mascarar ações insustentáveis e irresponsáveis. A grande variedade de definições e práticas em relação aos critérios ESG dificulta ainda mais a avaliação de eficácia e a comparação entre casos de maneira coerente, abrindo espaço para a manipulação e o engano.
O greenwashing prejudica não apenas o meio ambiente, mas a Economia, a sociedade, a Cultura e, principalmente, o povo. Influencia as decisões das pessoas com base em informações falsas, imprecisas ou exageradas. Isso leva ao aumento da desconfiança sobre iniciativas legítimas de sustentabilidade, além de comprometer a própria credibilidade dos envolvidos.
Não podemos deixar que o greenwashing nos distraia da verdadeira tarefa em questão: alcançar um futuro justo e sustentável para todos. Precisamos agir com responsabilidade e empatia, em busca do equilíbrio entre crescimento econômico e proteção ambiental, garantindo que todos vivam dignamente em um planeta saudável e próspero.
O tempo para as mudanças reais e significativas é agora. Devemos ser críticos em relação às empresas, projetos e políticas públicas que dizem estar comprometidas com a sustentabilidade, sem, no entanto, inibi-las. Participação ativa da sociedade deve ser estimulada para dar a devida atenção a essa causa que impacta a todos nós. Hoje sabemos sobre greenwashing graças a pressão feita por movimentos sociais, jornalistas, pesquisadores e reguladores. Todavia, tanto o greenwashing quanto o próprio conceito de sustentabilidade são complexos e precisam ser desmistificados para que mais pessoas consigam se envolver com eles e, assim, exercer de maneira mais consciente o seu poder de escolha.
Allan Borges é Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais pela FGV, doutorando em direito da cidade na UERJ e gestor do Centro de Inovação Socioambiental Manancial – CEDAE.
Irene Ciccarino é professora no Instituto Politécnico de Leiria e pesquisadora no ISCTE em Portugal, doutora em administração pela PUC-RJ.
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