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terça-feira, 9 de abril de 2019

Resposta e Pronto Emprego em um RIO Resiliente

Em um estado de crise como as chuvas agora em abril, repetindo cenários das chuvas de  fevereiro com alagamentos, deslizamentos e mortes, é importante lembrar que a Comlurb,  já possuiu seu Protocolo de Resposta e Pronto Emprego desenvolvido em 2016 e que determinava um Programa de exercícios nos seguintes moldes:
De modo a garantir a permanente operacionalidade do PRPE, os ajustes de planejamento e a validação dos pressupostos nele contidos, serão realizadas não menos que duas simulações anuais, preferencialmente nos meses de outubro e novembro.
Os simulados poderão envolver o teste em qualquer um dos níveis de resposta os quais serão descritos de forma mais aprofundada adiante, e ser alternadamente do tipo MESA ou PRÁTICO, conforme cronograma a ser definido em conjunto com a Direção da Empresa
Adicionalmente no início de 2017, Sistema de Resposta e Pronto Emprego visava institucionalizar, através de uma estrutura organizacional formal, a coordenação das diversas atividades de solução de demandas emergenciais e extraordinárias à rotina operacional, além de concentrar esforços na rotina da limpeza de grandes adensamentos em comunidades, especificamente aquelas que por sua relevância são consideradas Regiões Administrativas da Cidade.

Infelizmente a iniciativa foi esquecida, como aconteceu com tantas outras, após a mudança de administração da Companhia



Muita chuva para pouco prefeito



Pessoas passam ao lado de trecho destruído da ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro, após fortes chuvas  — Foto: REUTERS/Sergio Moraes
 Pessoas passam ao lado de trecho destruído da ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro, após fortes chuvas  — Foto: REUTERS/Sergio Moraes 
“É uma chuva completamente atípica”, disse o prefeito Marcelo Crivella nesta segunda (8) à noite no auge dos estragos causados por um dilúvio que colapsou a cidade, sem se dar conta de que esta foi a terceira vez este ano em que um temporal deixava o Rio de Janeiro debaixo d’água. Atípico, na verdade, parece ser o desinteresse do Prefeito em se informar sobre as muitas evidências de que já experimentamos um novo padrão climático, “um novo normal”, em que os chamados eventos extremos passam a ser a regra, e não exceção.

Isso significa que a tendência é testemunharmos daqui para frente chuvas mais fortes e frequentes – acima da série histórica – expondo as muitas vulnerabilidades de uma cidade espremida entre o mar e a montanha. Chuva forte combinada com maré alta agrava episódios de enchentes pela impossibilidade de escoamento da água no litoral. Piscinões são obras caras que atenuam mas não resolvem o problema, como se vê em São Paulo. Enquanto isso, milhares de famílias seguem vivendo em áreas de risco (18 mil imóveis em 117 comunidades vivem em áreas de alto risco, segundo levantamento da própria Prefeitura) onde sistemas de alerta são acionados durante os temporais para que as pessoas se refugiem em abrigos temporários. A questão é: quando essas famílias terão uma solução definitiva para suas moradias? O melhor que a Prefeitura pode fazer é soar sirenes indefinidamente? Qual o plano de remoção dessas pessoas ou de obras de contenção que eliminem o risco de novas tragédias?


Para agravar a situação, as ocupações irregulares desconfiguram as encostas onde há riscos de deslizamentos. O problema se torna ainda mais grave quando se percebe a inoperância das autoridades diante da multiplicação de prédios irregulares (alguns chegam a ter dez andares) construídos em áreas dominadas por milicianos. Esses condomínios piratas (sem qualquer licença ou outorga) surgem em áreas onde havia vegetação ou solo permeável. Quanto maior o número de empreendimentos irregulares, maior o tamponamento do solo impedindo a infiltração da água. Eleva-se o risco de tragédia.

Deslizamento de terra no Morro da Babilônia, no Leme, no Rio de Janeiro (RJ), deixa dois mortos na madrugada desta terça-feira (9). A tempestade que caiu no Rio de Janeiro na noite desta segunda-feira (8) deixou três mortos: um homem na Gávea e duas irmãs no Leme. A terça-feira (9) começou com mais chuva — Foto: JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Deslizamento de terra no Morro da Babilônia, no Leme, no Rio de Janeiro (RJ), deixa dois mortos na madrugada desta terça-feira (9). A tempestade que caiu no Rio de Janeiro na noite desta segunda-feira (8) deixou três mortos: um homem na Gávea e duas irmãs no Leme. A terça-feira (9) começou com mais chuva — Foto: JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO 
Tive a chance de questionar o atual prefeito do Rio (num encontro casual há quase dois meses) sobre um projeto chamado “Rio Resiliente”, lançado pela administração anterior, que reconhece a existência dos eventos extremos e canaliza recursos para ações que reduzam a vulnerabilidade da cidade. Antenado com o que já ocorre em outras grandes cidades do mundo (Paris, Londres, Nova Iorque etc.), o “Rio Resiliente” propunha vários ajustes na administração municipal para lidar com essa nova realidade.

A aquisição de um um novo radar meteorológico, o fortalecimento da Defesa Civil, a delimitação física das áreas de risco e de preservação ambiental, reassentamento das famílias situadas nessas áreas, ações contínuas de conservação e limpeza eram algumas das ações propostas no plano. Além de não reconhecer essa nova realidade climática, o prefeito ainda é acusado de não repassar os recursos previstos no orçamento municipal destinados à prevenção de enchentes. Politicamente, é uma rota suicida.

Não é possível enfrentar novos problemas com velhas cartilhas da administração pública. O clima está mudando. Ou ajustamos os protocolos de resposta aos eventos extremos, ou continuaremos repetindo desculpas surradas de que “chuvas atípicas” atingiram a cidade.

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