Porque limpar se ninguém suja?
“O paradoxo do brasileiro é o seguinte. Cada um de nós isoladamente tem o sentimento e a crença sincera de estar muito acima de tudo isso que aí está. Ninguém aceita, ninguém agüenta mais; nenhum de nós pactua com o mar de lama, o deboche e a vergonha da nossa vida pública e comunitária. O problema é que, ao mesmo tempo, o resultado de todos nós juntos é precisamente tudo isso que aí está! A auto-imagem de cada uma das partes – a idéia que cada brasileiro gosta de nutrir de si mesmo – não bate com a realidade do todo melancólico e exasperador chamado Brasil”.( Fonseca, 1993, p.12)
O “Paradoxo do Brasileiro” apresentado por Eduardo Giannetti Fonseca em seu livro ”Vícios Privados, Benefícios Públicos? A Ética na Riqueza das Nações” pode ser traduzido para a Limpeza Urbana como o Paradoxo do Vizinho:
Quem joga o lixo na rua é sempre o outro. Este é o Paradoxo do Vizinho. Quando uma pessoa comenta sobre a existência de lixo em algum lugar sempre acusa o vizinho, ou populares. Quanto a ela mesma, sempre exemplo de boa educação, afirma que nunca jogou lixo na rua e que chega a ter o cuidado de guardar o papel de bala no bolso para jogá-lo na lixeira de casa!
Se todos afirmam que não jogam lixo na rua porque existe lixo na rua? Quem, senão o mal educado do vizinho, jogou o sofá rasgado na esquina? Quem, senão os malditos populares, que jogam latinhas de refrigerante pela janela de automóveis e ônibus?
A soma dos comportamentos individuais supostamente bem educados é de 3000 toneladas diárias de lixo jogadas desordenadamente na rua.
A cooperação obtida por incentivo, ou coerção, deve necessariamente envolver todo cidadão, mesmo os que, agarrados ao Paradoxo do Vizinho, já contribuem para manter a cidade limpa.
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