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terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Rio mostrou como fazer um carnaval com competência

Disciplina, organização e limpeza nos desfiles de escolas e nos blocos tornaram a folia um sucesso

Por Editorial O Globo

28/02/2023 00h10  Atualizado 

Depois de dois anos de recesso forçado pela pandemia, e mesmo com as expectativas infladas pela retomada da folia, pode-se dizer que o Rio saiu do carnaval deste ano com nota alta em todos os quesitos. Até o último domingo, o país foi tomado por multidões eufóricas atrás de blocos e trios elétricos, fazendo a alegria não só de foliões, mas também de empresários, comerciantes, ambulantes, empreendedores, prefeitos, governadores, de todos aqueles que dependem da festa de alguma forma. Ao contrário do que supunham as expectativas pessimistas criadas em cima de um histórico de derrapadas, desta vez a organização não decepcionou.



Os temidos problemas de infraestrutura — não só para os que desfilam, mas especialmente para os que sofrem o impacto direto dos cortejos — felizmente foram mínimos. No Rio, foi notável o trabalho do “bloco” da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb). A varrição entrava em cena tão logo os foliões saíam, impedindo que o lixo se acumulasse pelas ruas — um desafio e tanto se lembrarmos que, ao longo do mês, 355 blocos de rua tomaram a cidade, dois deles superando a marca do milhão de foliões (Cordão da Bola Preta e Fervo da Lud, ambos no Centro). Segundo a Riotur, 5 milhões saíram nos blocos.

Levando em conta o gigantismo dos megablocos, o número menor de desfiles em relação a 2020 também contribuiu para melhorar a organização e permitir que a infraestrutura montada desse conta da demanda. O acompanhamento da polícia e o respeito às restrições de horário e local possibilitaram que a população se planejasse, reduzindo o transtorno.

Os desfiles das escolas de samba do Rio e de São Paulo foram de alto nível, com temas criativos e atuais, confirmando a excelência das agremiações. A organização também passou no teste. No Sambódromo carioca, onde reinou a Imperatriz Leopoldinense com um inventivo enredo sobre Lampião, não causaria surpresa se o campeonato ficasse com Viradouro, Vila Isabel, Beija-Flor ou Grande Rio, todas fortes concorrentes. Na festa paulistana, saiu vitoriosa a Mocidade Alegre, que conquistou seu 11º título com um cativante enredo sobre o primeiro samurai negro. Saíram ganhando o samba e a cultura brasileira.

Claro que ainda há pontos a melhorar. Um deles é a segurança. Por todo o país houve relatos de furtos de celulares e golpes contra os foliões. As autoridades devem aproveitar as boas experiências, como uso de drones, torres de observação e detectores de metais durante os cortejos, e repeti-las. São úteis não só no carnaval, mas em qualquer evento com multidões.

Não se pode perder de vista que o carnaval é uma festa que faz girar a economia de cidades como Rio, Salvador, Recife, Olinda, São Paulo e Belo Horizonte. Os desfiles de escolas de samba ou de blocos são apenas o último ato de um roteiro que começa um ano antes e emprega milhares de brasileiros, seja na confecção de fantasias e alegorias, seja na preparação da infraestrutura para atender foliões e turistas.

O êxito do carnaval de 2023 foi um bálsamo. Demonstra que organização e disciplina não são incompatíveis com ruas tomadas pela alegria e pelo samba. Ao contrário, foi o profissionalismo que permitiu ao Rio, entre outras cidades, cumprir o que previu editorial do GLOBO no início do mês — e fazer o maior carnaval dos últimos tempos.

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