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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Mortandade de Peixes - versão 2018

Comlurb já recolheu 13,6 toneladas de peixes mortos na Lagoa Rodrigo de Freitas
Segundo biólogo, Canal do Jardim de Alah entupido por areia pode ter impedido a renovação da água e provocado a mortandade
Gustavo Goulart
 Até as 18h desta quinta-feira, a Comlurb já havia retirado 13,6 toneladas de peixes mortos, principalmente savelhas, da Lagoa Rodrigo de Freitas. Os alertas do biólogo Mário Moscatelli sobre as condições da lagoa foram confirmados na manhã desta quinta-feira com uma grande mortandade de peixes. O profissional percorreu trechos da lagoa e descobriu pontos de lançamento de esgoto e o Canal do Jardim de Alah totalmente entupido por areia, o que impediu a renovação da água e pode ter sido um dos principais motivos para a mortandade. 
Paisagem foi alterada por causa da mortandade Emily Almeida / Agência O Globo

A Secretaria municipal de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) atribuiu a morte de peixes à proliferação de cianobactérias e fitoplânctons. Segundo nota da prefeitura, esses microrganismos têm ciclo de vida rápido, se proliferam com as altas temperaturas e, ao morrerem, consomem muito oxigênio. Moscatelli disse que fez uma vistoria em pontos da lagoa com técnicos da Subsecretaria de Meio Ambiente e que não encontrou na água condições que indicassem a presença de microrganismos.  
— Posso estar errado, pois não fiz análise da água. Mas, vi a água muito clara. Não consegui identificar onde está essa proliferação de microrganismos. A água com a presença deles fica com cor opaca. O comportarmento que estou vendo dos peixes e crustáceos remete a mortandades anteriores, que não tiveram a ver com microrganismo. Embora tenha melhorado, continua o lançamento de esgoto. Além disso, o canal do Jardim de Alah está completamente entupido por areia. E também há a situação climática agressiva — comentou Moscatelli. 
Ele destacou que, dessa vez, a mortandade não se limitou às savelhas, cuja suposta super-população já foi usada, no passado, como argumento pelas autoridades.
— Calor, Canal do Jardim de Alah obstruído e lançamento de esgoto formam a receita certa para a mortandade. Tem de tudo aí. E não é savelha, não. Dessa vez, não tem aquela história de super população de savelhas. São todas as espécies. Robalo, Parati, Tainha, Tilápia, está variado o cardápio — contou o biólogo. 
Por meio de nota, a Seconserma disse que os órgãos ambientais estão em alerta desde a madrugada, mas não mencionou o entupimento do canal, um dos principais motivos do fenômeno da mortandade, de acordo com o biólogo. 
Atleta em treinamento no meio da lagoa com peixes mortos Emily Almeida / Agência O Globo
“Os órgãos ambientais envolvidos no monitoramento da Lagoa estão em alerta desde esta madrugada, quando se registrou tendência declinante nos valores das concentrações de Oxigênio Dissolvido (OD) na água, com forte perda desses níveis, chegando de 0h30 até a última leitura das 10h ao valor de = < 0,1mg/L, indicando início de anoxia (ausência ou diminuição de oxigênio)"; explicou em nota.
Para o ambientalista, a prefeitura está perdendo uma boa oportunidade para acelerar a troca de água da lagoa, já que os níveis de maré estão altos, muito pela proximidade da lua cheia.
— Observando a tábua de marés do Centro de Hidrografia da Marinha, sabemos que a uma hora e dois minutos da madrugada desta quinta-feira (ou 2h02m fora do horário de verão) a maré chegou a 1.2 metro. É muito alto. Às 7h28m, a maré atingiu 0.2. É maré de escoamento, de baixa mar. Depois, às 14h11m, a maré atingiu 1.1. E às 20h49m, 0.1, muito baixa. A prefeitura teve oportunidade de facilitar a troca, mas não desobstruiu o canal. No próximo sábado, teremos lua cheia. Maré de 1.3 às 3h28m, no horário de verão. Alta demais. Possibilitaria entrada de água na Lagoa. Se a prefeitura não ficar esperta e aproveitar, vai perder uma oportunidade de ouro. Pois vamos ter marés altas até quarta-feira, quando teremos 1.1. As mais intensas, sábado e domingo, com 1.3 - alertou. 
Para a operação de limpeza da Lagoa foram necessários 601 garis, 61 agentes de limpeza e quatro catamarãs.
Também por nota, a Seconserma disse que a Fundação Rio Águas está monitorando as comportas para a renovação da água da lagoa, mas também não mencionou o entupimento do canal.  
"A Fundação Rio-Águas está mantendo as comportas do Canal do Jardim de Alah abertas desde do dia 14/12 e a da General Garzon, desde hoje, às 10h30m, a fim de reduzir a temperatura da água e melhorar a oxigenação. Contudo, a maré está baixa e a ausência de vento também não colabora para que ocorra a troca de água entre o mar e a lagoa". 
— Se não nos adaptarmos às novas condições climáticas, com toda tecnologia que temos à disposição atualmente, de nada adiantará a simples tarefa de desobstruir o canal e facilitar a troca de água — concluiu Moscatelli.
O trabalho da Comlurb vai continuar durante toda a madrugada e, se necessário nesta sexta-feira, até cessar a mortandade, informou a Companhia em nota.

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