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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Garis do Rio dão show e são aplaudidos na Sapucaí

Garis da empresa pública de limpeza urbana varrem a Sapucaí com samba no pé; companhia tem orçamento de 2,9 bilhões

Por Caio Sartori — Do Rio


Renato Sorriso: “Inventei de dar uma sambada. O setor 1 me aplaudiu, mas tomei bronca” — Foto: Leo Pinheiro/Valor


A Comlurb, empresa pública de limpeza urbana do Rio, tornou-se uma espécie de símbolo do Carnaval. Trajados com o uniforme laranja, uma marca característica da cidade, os garis cruzam a Sapucaí de forma sincronizada no intervalo entre os desfiles e são celebrados pela plateia.

 “É o único órgão público que é aplaudido de forma espontânea uma vez por ano”, diz o presidente da empresa, Flavio Lopes. O trabalho de limpeza na Sapucaí é feito por 800 garis: “Quem vê acha que é só uma festa, mas é uma operação logística bem complexa para não atrapalhar as escolas. Até porque não dá tempo de ir atrás da escola e voltar, então separamos em trechos. É bem coordenado.”

 O movimento foi popularizado no fim dos anos 1990 por Renato Sorriso. O sucesso do gari foi tão grande nos carnavais que o levou a Londres, em 2012, ocasião em que sambou na cerimônia de encerramento da Olimpíada. Estava lá como representante do Rio, que sediaria os Jogos dali a quatro anos.

 “A mensagem que eu levo para a população é até mais importante que uma varredura”, diz Sorriso, conhecido por limpar a pista com samba no pé. “Um gari como eu saiu lá de Madureira para representar o país em Londres. A ficha não caiu.”

 No Carnaval, o lixo nas ruas aumenta e o domiciliar diminui. Na folia, os garis ajudam a “empurrar” não só os desfiles, como também os blocos pela cidade. Mas, afinal, como Sorriso inaugurou a tradição do gari sambista?

 “Em 1998 eu inventei de dar uma sambada do nada. O setor 1 [na arquibancada] começou a aplaudir, mas eu tomei uma bronca do meu gerente, que perguntou se eu estava lá para sambar ou para trabalhar”, conta. “Xingaram a mãe dele, o pai dele, tacaram lata. Com a repercussão, fui coroado. Passei a ir para a frente da linha de garis, sambando. A ideia foi do próprio gerente que me deu a bronca!”. Sorriso continua sambando na avenida, r outros garis se incorporaram à varrição festeira.

 A Comlurb tem quase 20 mil funcionários, 1.117 veículos e equipamentos e um orçamento de cerca de R$ 2,9 bilhões estimado para este ano. A maior parte, R$ 1,7 bilhão, é para gastos com pessoal.

 Lopes cita uma frase do prefeito do Rio, Eduardo Paes, para dizer que “o gari é a prefeitura que as pessoas veem todos os dias, a prefeitura que ela olha na rua”. Essa característica também traz problemas. Quando a Comlurb entra em greve, a crise é gritante. A última foi em março de 2022 e resultou em acúmulo de lixo nas ruas.

 O tratamento de resíduos sólidos em uma metrópole como o Rio é um desafio. Por anos, a cidade conviveu com um lixão em Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Sensível e às margens da Baía de Guanabara, o espaço foi desativado em 2012. O lixo dos cariocas passou a ser levado para um aterro em Seropédica, também na Baixada, a mais 70 km do centro do Rio. O custo logístico é alto: são quase 9 mil toneladas diárias transportadas. Uma pequena parcela é desviada desse montante e direcionada a iniciativas de reaproveitamento.

 “Parte desse resíduo é de poda de árvore, que levamos para o Caju, onde tem um equipamento que o tritura e o transforma em material para empresa de cerâmica ou para biometanização, para transformar em gás, que vira energia. O que sobra vira adubo que nós oferecemos para as hortas da cidade”, diz Lopes.

 A empresa também faz “corte de mato e poda de árvore, limpeza de hospital e de escola, gestão dos aterros, combate a vetores, limpeza de espelho d’água das lagoas e dos canais, manutenção de praça, remoção de entulho. Temos até alpinistas para limpar encostas”, diz Lopes.

 A Comlurb enfrenta ainda o desafio de trabalhar em áreas controladas pelo crime organizado. Lopes diz que os funcionários não têm empecilhos para efetuar o trabalho. “Quando colocamos a roupa laranja e o crachá, entramos em qualquer lugar. Eles [as comunidades] precisam


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