Translate
quinta-feira, 15 de maio de 2025
Nos 50 anos da Comlurb, garis exaltam orgulho com profissão e revelam desafios da rotina
Fundamental na vida dos cariocas, companhia possui mais de 19 mil funcionários e frota com 1.115 veículos
Romulo Cunha
romulo.cunha@odia.com.br
Rio - A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) completa, nesta quinta-feira (15), 50 anos de fundação. Considerada a maior organização de limpeza da América Latina, a instituição foi criada em 1975, depois da fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, como sucessora da Companhia Estadual de Limpeza Urbana (Celurb). Atualmente, são 19.253 funcionários, sendo 12.839 garis. Em comum, todos carregam o orgulho da profissão.
Ao DIA, Simone Vieira, de 52 anos, que trabalha na gerência de Bangu, na Zona Oeste, com o serviço de roçada, destaca que, quando era criança, via os garis passando na rua e ficava admirada. Por isso, sempre quis trabalhar na empresa e conquistou a vaga, há 15 anos, após um momento delicado: a perda mãe.
"No momento que mais precisei, eu passei na prova. Tinha perdido a minha mãe, vivia sozinha e precisava trabalhar, queria uma estabilidade. Fiquei muito emocionada e pensei nela porque se ela fosse viva, ia ficar muito feliz. Ela sabia o quanto eu queria isso. O caminhão passava lá em casa e eu corria atrás. Eu já tinha esse carinho. É uma emoção que não tenho nem palavras, é como se tivesse acontecendo tudo agora. Uma felicidade e um amor muito grande pela roupa que eu visto. É uma armadura. Nós somos guerreiros. Encaramos tudo com muito amor e carinho", conta.
Simone concilia o trabalho com a vida de judoca. Atleta do Flamengo, ela já competiu em campeonatos estaduais, nacionais e até disputou o mundial de veteranos pela seleção brasileira, em 2018, no México. Segundo a gari, o serviço de roçada serve como um treinamento para a modalidade. Mesmo no judô, a mulher segue influenciando próximas gerações.
"Tem muita criança que pede para tirar foto. No lado do esporte, tem um menino que veio da Inglaterra e quando viu o caminhão da Comlurb ficou apaixonado. A mãe conversou com a professora, que mostrou a minha foto para ele. Eu mandei fazer uma roupinha de gari. No dia que me conheceu, ele ficou no treino com a roupa de gari. Não quis colocar o kimono. Isso é muito legal e gratificante. Crianças são muito sinceras e você vê que é uma coisa pura. A gente se preocupa com o próximo, não só com a gente", completa.
O gari Valdeci de Boareto, de 56 anos, viveu metade da sua vida trabalhando na companhia: são 28 anos de carreira. Atualmente, dá expediente na Escola Municipal Padre Miguel da Nóbrega, em Ramos, na Zona Norte. Para ele, o trabalho é importante para conscientizar as pessoas sobre o cuidado com o meio ambiente. Boareto, inclusive, escreveu o livro "Comportamento que te salva", que destaca a inteligência emocional, resiliência e empatia adquiridos na vida prática.
"Aprendi tudo isso nas ruas do Rio. Tenho 28 anos de empresa, que pra mim é uma mãe e sabe acolher os filhos, nos protegendo do sol e da chuva. É uma coisa linda que tenho observado nesse tempo. As pessoas precisam se colocar no lugar daquele que faz o trabalho de limpeza urbana. O planeta é a nossa casa e precisamos cuidar, se não estaremos nos matando, nos destruindo. Essa conscientização faz uma grande diferença. Nosso padrão de vida aumenta muito com o nosso serviço. Cada lixo que tiramos, transmitimos saúde para a sociedade. Ser uma pessoa que transmite isso para a população é maravilhoso. Você se sente incluído no mundo. Se não existir esse profissional de limpeza urbana, o povo morre. Os hospitais ficam entupidos. É uma verdadeira pandemia", comenta.
Valdeci realiza palestras pelo estado, país e até fora do Brasil - o gari já esteve na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. "Na época que entrei, pensei que estava no lugar errado porque as pessoas viravam o rosto pra mim. Comecei a perceber que precisamos pegar o sistema e mostrar a realidade. Hoje, estou podendo falar para o mundo todo a importância desse profissional."
Sorriso como referência
O gari mais conhecido da companhia é Renato Luiz Feliciano Lourenço, o Sorriso, de 60 anos. Ele surpreendeu o público ao sambar na Marquês de Sapucaí enquanto trabalhava em 1997. Desde então, virou símbolo do Carnaval e da cidade, apresentando-se no fechamento das Olimpíadas de Londres, em 2012, que abriu espaço para a edição do Brasil em 2016, quando carregou a tocha olímpica.
Sorriso segue sendo referência para outros funcionários, como é o caso de Valdo Luiz Conceição, de 58 anos. O gari viralizou em 2020, durante a pandemia, ao dançar a música Flor de Lis, de Djavan, no Centro do Rio. Desde então, ele leva o trabalho na alegria.
"Após ver o Renato Sorriso dando aquele show na Sapucaí, ele foi um divisor de águas para nós. Não vai existir outro Tim Maia, outro Pelé nem outro Renato. A gente segue os bons e tenho ele como exemplo. Na Rua São José, um anjo me agraciou me filmando quando, sob um sol de 42°C, dançava e bailava ao som de Djavan. Só segui o ritmo da música e repercutiu. Foi um fato inusitado, mas de grande repercussão positiva. É de suma importância ao planeta e agradeço a Deus por fazer parte dessa função. Problemas, todos nós temos, mas tenho que deixar na gaveta. Não descontar em ninguém. Tenho que estar focado nas nossas referências", diz.
Segundo Valdo, a empresa fez com que ele realizasse sonhos. O gari começou sua trajetória na companhia há 23 anos e se tornou um maratonista amador devido a prática na coleta. Todos os dias ele sai de São Gonçalo, na Região Metropolitana, para ir ao Centro do Rio trabalhar e receber o carinho do público.
"Foi através de eu estar ali trabalhando na coleta domiciliar, correndo atrás de caminhão, que fez com que eu amadurecesse e me tornasse um atleta amador. Foi de suma importância porque me deu preparo. Essa empresa me fez realizar sonhos e tudo que eu sou agradeço a ela. A nossa função é manter a cidade limpa para fazer o carioca e os turistas mais felizes. É de suma importância para o meio ambiente. Além disso, o gari conhece todas as ruas e está sempre auxiliando as pessoas. Só tenho orgulho", destaca.
Desafios
Ao fazer 50 anos, o principal desafio da companhia é o combate ao descarte irregular de resíduos e entulhos, que pode formar áreas críticas pela cidade. Em épocas de chuva, os garis são responsáveis por retirar o lixo que entopem ralos e bueiros, causando alagamentos e bolsões d'água.
Para fazer a limpeza, a empresa é obrigada a utilizar equipamentos que não fazem parte da rotina, o que demanda tempo e consome recursos e pessoal que poderiam ser melhores utilizados. Entre as soluções destacadas, estão a conscientização da população, da implantação de ecopontos e caixas compactadoras nas áreas mais críticas, colocação de jardins em áreas degradadas e trabalho de fiscalização.
Ao DIA, Jorge Arraes, presidente da companhia, revela que há projetos sendo desenvolvidos para o futuro, a curto e médio prazos. Todos eles irão ajudar no combate ao acúmulo de lixo e descarte irregular de entulhos. A ideia é engajar a Comlurb na chamada economia circular, um conceito de sustentabilidade.
"Pensando no lixo como um ativo e algo que tem um valor agregado, o que a gente está trabalhando são projetos de forma objetiva e sustentável. Por exemplo, uma unidade de triagem de lixo orgânico para reaproveitamento, seja para geração de energia ou biometano. Sobre o descarte irregular de entulhos, outro problema grave na cidade, estamos com dois projetos: um é o nosso aterro de inertes, que está em obra em Gericinó para onde a Comlurb pretende direcionar a entrega dos resíduos de construção civil. Além disso, há a ampliação do número de ecopontos. Temos 64 e a ideia é dobrar até o final do ano", explica.
A Comlurb tem sede na Tijuca, na Zona Norte, e conta com mais de 100 unidades operacionais em todos os bairros do Rio. Dos mais de 19 mil funcionários, 1.242 são empregados caracterizados como Pessoas com Deficiências (PCDs). Para Arraes, os garis são a base da empresa.
"Não existe a companhia sem os nossos funcionários. Os garis são o pessoal que está na rua dando resposta imediata nos eventos e no cotidiano. É uma área dedicada, que veste a camisa. Sem eles não adianta nada a gente ter bons projetos e equipamentos modernos. Sem eles não conseguiríamos alcançar e tratar cerca de 8 mil toneladas por dia. Eles são a base da companhia."
Na frota, são 1.115 veículos e equipamentos, sendo 550 veículos pesados, 248 equipamentos como varredeiras de pequeno e médio portes, tratores de comunidade, tratores de limpeza de praia, nove embarcações, 55 veículos para transporte de pessoal, 33 veículos para revitalização de praças e parques e 220 utilitários.
Há milhares de equipamentos manuais e elétricos portáteis, entre eles, roçadeiras, Giro-Zero (para o corte de mato em áreas mais íngremes), robôs roçadores, sopradores, papeleiras para o depósito de pequenos resíduos e diversos portes de contêineres e caixas metálicas.
Serviços
A Companhia promove diversos serviços, entre os quais, coleta domiciliar, coleta seletiva, varrição das ruas, limpeza de praias, praças e parques, coleta nas sete ilhas da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, com catamarã, limpeza dos espelhos d´água da Lagoa Rodrigo de Freitas e do Museu do Amanhã, limpeza de encostas com garis alpinistas, limpeza de hospitais e escolas municipais, podas de árvores, controle de vetores, pesquisas gravimétricas do lixo, remoção gratuita de entulho e bens inservíveis, reparo em brinquedos e revitalização de praças, entre outros.
No Mês do Trabalhador, a Comlurb comemora o Dia do Gari e 50 anos de existência
Maio é o mês do Trabalhador. Por si só isso já seria motivo de comemoração na Comlurb, que conta com uma das categorias mais respeitadas pela população carioca, os garis. Mas temos muito mais a celebrar este mês: hoje, dia 15, a Comlurb completa 50 anos de existência, e amanhã comemoramos o Dia do Gari. Não há como separar a história da maior companhia de limpeza urbana da América Latina da dos garis. A categoria é tão especial que a denominação gari, como são conhecidos os trabalhadores da limpeza urbana Brasil afora, surgiu no Rio. Foi aqui que viveu o francês Pedro Aleixo Gary, na década de 1870, fundador da primeira empresa responsável pela limpeza das ruas da cidade. Os garis estão em toda parte. Faça chuva ou faça sol, estão coletando lixo, varrendo ruas, roçando mato, limpando praias, escolas e hospitais, removendo pichações, fazendo poda de árvores, trabalhando em túneis e, até, atuando como alpinistas, pendurados em cordas limpando encostas de comunidades. Se chover, o trabalho é dobrado. Os garis estarão lá tirando lama, desobstruindo caixas de ralo, removendo galhos de árvores, ajudando a cidade a retomar à normalidade.
E eles fazem isso tão bem que em duas ocasiões amenizaram o sofrimento das vítimas de eventos desse tipo fora da cidade. Em 2011, trabalharam na retirada de escombros e lama em Nova Friburgo, por ocasião das fortes chuvas que atingiram a região serrana do Rio e deixaram um saldo de mais de 900 mortos. Mais recentemente, em 2022, os garis estiveram na cidade de Petrópolis, em dois fins de semana, para ajudar na remoção de resíduos remanescentes do forte temporal que caiu na cidade e deixou mais de 200 mortos.
Nossos garis estão presentes nas ocasiões tristes, mas também nas felizes. É assim todos os anos, depois da festa de Réveillon, em Copacabana, que reúne milhões de pessoas, e quando surgem os primeiros raios de claridade, turistas e cariocas já encontram tudo limpo, graças à rapidez, eficiência e expertise dos garis. No Carnaval, sejanos blocos de rua ou no Sambódromo, a lógica é a mesma.
Desde o primeiro grande evento, a Rio -92, quando os garis realizaram de forma pioneira a separação do lixo reciclável no Riocentro, nada acontece na cidade que não conte com a Comlurb. A Companhia atuou nos Jogos Panamericanos, em 2007, Jogos Mundiais Militares, em 2011, Jornada Mundial da Juventude, em 2013, Copa do Mundo, em 2014, Olimpíadas e Paraolimpíadas, em 2016.
E voltando à magia do mês de maio, os garis atuaram nesse mesmo período do ano passado no show da Madonna, em Copacabana, e este ano no da Lady Gaga, com um planejamento de limpeza que envolveu diretamente mais de 1.600 garis na operação, que só terminou com o raiar do dia, já na manhã do dia 4. Viva os garis e viva os demais empregados, gestores, lideranças eadministrativos, que ajudam a construir essa história emblemática na cidade, com planejamento e suporte para que os garis desenvolvam melhor seu trabalho nas ruas.
Comlurb comemora 50 anos de dedicação à cidade
A Comlurb comemora hoje 50 anos, com uma homenagem aos seus 19 mil funcionários. Um evento no Palácio da Cidade, pela manhã, vai reunir os trabalhadores mais antigos da companhia, que receberão placas comemorativas. A solenidade, também alusiva ao Dia do Gari, celebrado amanhã, dará protagonismo a quem bota a mão na massa: garis apresentarão textos de sua autoria e, até, uma composição musical, o Samba dos 50 Anos.
Para marcar o cinquentenário da maior companhia de limpeza urbana da América Latina, alguns pontos importantes da cidade estão desde ontem ganhando iluminação laranja, marca registrada da empresa. A programação inclui a exposição “Expo Gari 205 - Além da vassoura, a Magia da Arte” – com foco na sustentabilidade –, no Galpão das Artes Urbanas da Comlurb, na Gávea. E, no dia 1º de junho, será realizada a Edição Especial da Corrida e Caminhada Bora Correr - 50 anos, na Praia de Copacabana.
A COMLURB EM NÚMEROS
- A companhia conta com 19 mil funcionários, dos quais 13 mil são garis;
- Cerca de 9 mil toneladas de resíduos são removidas das ruas diariamente;
- Fazem parte da frota 1.115 veículos e equipamentos;
- Em 2024, foram feitos 172.678 manejos de árvores, incluindo podas e remoção;
- Foram revitalizados 2.200 parques e praças em 2024 em toda a cidade;
- Em 2024, mais de 650 mil ralos foram limpos.
quarta-feira, 14 de maio de 2025
Maior empresa de limpeza urbana da América Latina, a Comlurb completa 50 anos
Fundada no dia 15 de maio de 1975, Companhia Municipal de Limpeza Urbana tem prfunda história com a cidade do Rio e com a palavra 'gari'
Por Felipe Lucena -13 de maio de 2025
![]() |
Foto: Rio Antigo Memórias/ reprodução |
Na quinta-feira desta semana, dia 15/05, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) completa 50 anos. Criada em 1975, a empresa tem profunda história com a cidade do Rio e com a palavra ‘gari’.
A maior organização de limpeza pública na América Latina resulta da transformação da CELURB – Companhia Estadual de Limpeza Urbana, conforme os termos do decreto-lei Nº 102 – de 15 de maio de 1975, no contexto do fim do estado da Guanabara.
Um outro decreto, bem anterior e imperial, (mais precisamente de 1830) determinava a retirada do lixo das ruas do Rio de Janeiro, o que na época era um grande problema. Quarenta e sete anos depois, um empresário francês entrou em cena.
Aleixo Gary criou a Aleixo Gary e Cia, uma companhia de limpeza que foi contratada para efetuar o serviço de limpeza urbana do Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1876. O contrato valeu até 1891. O trabalho da empresa de Gary foi tão considerado que os trabalhadores desta área passaram a ser conhecidos popularmente em todo o Brasil como garis.
“Um ano depois, a empresa foi encerrada, dando lugar à Gestão de Limpeza Pública e Privada da Cidade, que previa uma limpeza pública de qualidade inferior ao da anterior. Tendo crescido acostumado a ver as ruas limpas depois que os cavalos passarem, moradores insatisfeitos continuavam ligando para o ‘Times dos Gary’s’ … e o nome gradualmente alterado para “Gari” e usado, até hoje”, destaca um texto da página Brasil Imperial, no Facebook.
![]() |
Gari da Comlurb atuando no Sambódromo no Carnaval 2024 – Foto: Comlurb/Divulgação |
Em 2015 foi lançado o documentário “Comlurb 40 anos – uma memória da limpeza urbana”, que conta a história das quatro décadas da empresa. O filme traz depoimentos de funcionários de diferentes áreas, de ex-presidentes da empresa e do prefeito Eduardo Paes.
A Companhia faz 50 anos neste dia 15 de maio e no dia seguinte, 16 de maio, é comemorado o Dia do Gari. Muitos motivos para celebrar.
Felipe Lucena
http://malditaid.blogspot.com.br/2018/01/meus-links_31.html
Felipe Lucena é jornalista, roteirista, redator, escritor, cronista. Filho de nordestinos, nasceu e foi criado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, em Curicica. Sempre foi (e pretende continuar sendo) um assíduo frequentador das mais diversas regiões da cidade do Rio de Janeiro.
Compostagem de biorresíduos: uma revolução necessária
Os usos são múltiplos: desde abastecimento de frotas da própria coleta urbana ou injeção de gás no sistema gerador de eletricidade
Desde que os humanos nos organizamos em cidades, a disposição dos resíduos tem sido um grande desafio civilizatório. Em seu essencial livro “Lixo, vanitas e morte: considerações de um observador de resíduos (2003)”, Emílio Maciel Eigenheer descortina a sempre complicada e dura relação de nossa espécie com o “inservível”. O assunto está, pois, prenhe de tabus, interdições e preconceitos – tudo intimamente conectado ao drama humano relativo à morte. Falar de resíduos constrange, inibe. Não queremos versar sobre a finitude. Mas há alguns caminhos que sugerem horizontes possíveis menos danosos ao ambiente e à coletividade. Prática bastante difundida em alguns países europeus – como Alemanha, Áustria, Itália – a recuperação dos biorresíduos (restos de podas de árvores e jardinagem ou de alimentos) precisa ser destravada no Brasil.
O conceito é a redução ao máximo da disposição final do lixo nosso do dia-a-dia em aterros sanitários (medida mais do que urgente quando o assunto é a sustentabilidade), aliada a um ganho de energia. Na Áustria, 40% de todos os resíduos voltam para a terra, em forma de adubo. Há 13 anos a Itália pisa no acelerador em processos de transformação de seus biorresíduos em fertilizantes, biogás e biometano. Portugal desde 2020 tem lei específica que obriga a coleta seletiva dos orgânicos pelos municípios. Os usos são múltiplos: desde abastecimento de frotas da própria coleta urbana ou injeção de gás no sistema gerador de eletricidade. O que seria desperdiçado – num processo gerador de gases do efeito estufa – passa a ser aproveitado. A tal circularidade, tão desejada. Golaço.
Talvez nossa sociedade ainda não esteja pronta para para fazer a separação dos resíduos orgânicos em casa, muito menos para a compostagem doméstica ou comunitária. Vivemos em clima tropical, e o acondicionamento de restos de comida em apartamentos pode enfrentar dificuldades diversas. Nas escolas, a educação ambiental ainda é peça de ficção, ou está muito distante do ideal. Entretanto, nada pode explicar os índices praticamente inexistentes de compostagem em todo o país, a não ser uma extrema letargia de empresas, governos e sociedades.
Metade da geração diária de lixo domiciliar na cidade do Rio (3,5 mil das 7 mil toneladas) é composta de biorresíduos. Na usina do Caju, a Comlurb pratica a compostagem há anos. O problema é que a quantidade é ainda irrisória (150 toneladas por mês, o que representa 0,14% da fração orgânica gerada – o patamar já foi mais alto). São saudáveis e incríveis as iniciativas como a das empresas Ciclo Orgânico e Casca, com assinaturas mensais para quem separar os biorresíudos em baldinhos. Mas apostar na compostagem como política pública é uma revolução necessária. Precisamos começar imediatamente.
Emanuel Alencar
Jornalista e mestre em Engenharia Ambiental. É autor dos livros "Baía de Guanabara - Descaso e Resistência" (2016) e "Histórias do mangue da Guanabara" (2024). Faz parte da ONG Grupo Ação Ecológica (GAE) e do conselho consultivo do Bosque da Barra.
quinta-feira, 8 de maio de 2025
Comlurb apresenta frota de caminhões de coleta na Zona Oeste com marca 50 anos
A Comlurb apresentou, nesta quarta-feira (7/5), em Campo Grande, mais uma parte da nova frota de caminhões de coleta que vai atender a Zona Oeste. Os veículos estão adesivados com a marca comemorativa dos 50 anos da Companhia, que serão celebrados no próximo dia 15. Foi entregue o primeiro lote de 40 caminhões de um total de 82. Os veículos vão realizar a coleta em Senador Vasconcelos, Santa Cruz, Pedra de Guaratiba, Paciência, Cosmos, Ilha de Guaratiba, Barra de Guaratiba e Urucânia.
Os novos caminhões seguem o padrão dos últimos contratos, com implementos para remoção dos novos contêineres de 1.200 litros que foram instalados próximo a comunidades e em condomínios populares do tipo Minha Casa, Minha Vida. A Zona Oeste já recebeu 2.194 contêineres de 1.200 litros, sendo 1.379 híbridos, mais leves, e 815 metálicos.