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quarta-feira, 3 de abril de 2019

Ascensão e queda da patronagem partidária municipal

O fenômeno da patronagem partidária tem sido encarado na literatura como instrumento de recompensa a redes de apoiadores e clientelas, e como estratégia para a formação e manutenção de coalizões. Nessa chave teórica, a patronagem é entendida como mecanismo de troca particularista entre patrões (individuais ou coletivos), que oferecem recursos públicos ou o acesso a eles,  e redes de clientes (apoiadores, eleitores etc.), que em troca têm a oferecer sua militância ou, ao menos, seu voto .

A relação entre poderes executivo e legislativo municipais caracterizado por alta patronagem municipal, com consequente rotatividade de gestores e reflexos negativos na qualidade dos serviços públicos, longe de ser uma estratégia política de um executivo sem base no legislativo, parece ser resultado da inépcia do gestor


Retaliação na forma de exonerações acirrou os ânimos no Legislativo
Por: Berenice Seara em 03/04/19 13:34

Sessão que abriu o processo de impeachment contra Crivella
Sessão que abriu o processo de impeachment contra Crivella Foto: Renan Olaz / Divulgação / CMR

Ninguém há de negar que o prefeito Marcelo Crivella (PRB) investiu muito no desmanche de uma base na Câmara que sempre foi frágil, mas, ainda assim, duramente construída.

Com apenas três vereadores saídos das urnas em 2016 — João Mendes de Jesus, Tânia Bastos e Bispo Inaldo Silva — o prefeito e seu PRB precisaram colocar tijolinho por tijolinho, logo no início do governo, para ter uma maioria.

Uma peça-chave nessa alvenaria foi, por incrível que pareça, o (P)MDB do arquirrival Eduardo Paes. Com dez vereadores — a maior bancada — e o presidente da Casa, Jorge Felippe, não dava para colar a argamassa sem contar com o dono do Pedro Ernesto há cinco mandatos.

Diferentemente de seu antecessor, Marcelo Crivella preferiu conversar com cada vereador, e não com os presidentes dos partidos.

Um por um, eles foram ganhando a chance de indicar um administrador regional em sua base eleitoral, um superintendente (se tivesse mais votos ou poder de articulação no parlamento) ou até um secretário — caso do presidente da Casa.

Jorge Felippe pôs o seu rebento político, o deputado estadual Jorge Felippe Neto, na tão cobiçada Secretaria de Conservação. Transformou o seu quinhão num canhão eleitoral, com sua capacidade de asfaltar ruas e, claro, construir e reformar praças.

Outros vereadores, menos poderosos, também não tinham do que reclamar. Ganharam o seu espaço, sempre respeitando a geografia política da cidade e os rincões eleitorais.

Paulo Messina, um dos mais articulados da Câmara, passou de líder do governo a chefe da Casa Civil, e ganhou papel de relevância no governo. Até que...

Em meados de 2018, Crivella, já na tensão pré-eleitoral, começou a se indispor com alguns dos antigos parceiros no Legislativo. Tomado de ira quando se achava traído, não hesitava em exonerar, sem aviso, todos os indicados por aqueles que considerava serem Judas à sua volta.

A situação chegou ao ponto mais delicado depois da eleição, quando ele viu que seu filho, Marcelo Hodge Crivella, candidato a deputado federal pelo PRB, não tinha passado da quarta suplência.

Entre os culpados, viu a famosa Secretaria de Conservação — cuja estrutura, tão querida da população, em nada tinha ajudado o rapaz.

Convencido de que 2020 não será como 2018, Crivella começou a “limpar” a área em 2019. As exonerações foram publicadas em massa nas páginas do Diário Oficial, sempre sem aviso prévio aos interessados.

Jorge Felippe viu o seu indicado na Conservação ir para a rua. Em seu lugar, entrou um técnico sugerido pelo secretário de Infraestrutura e Habitação, Sebastião Bruno, o novo queridinho do prefeito. A ordem passou a ser “não atender aos pedidos dos vereadores”.

E Crivella se esforçou mais. Ao não gostar de um projeto que ameaça reduzir o valor do IPTU, mandou mensagens individuais aos antigos integrantes da base, avisando que estava paralisando obras e serviços pedidos pelos “infiéis”.

Foi o sopro que faltava para derrubar o que, a esta altura, não passava das ruínas que o prefeito ainda mantinha na Câmara Municipal do Rio. Ontem, o que se viu ali foi apenas a queda de um castelo de areia.

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