Cansados de ver o lixo se acumular na calçada, moradores de um edifício em Ipanema decidiram instalar uma lixeira na rua por conta própria. A cesta coletora de cor laranja tem as mesmas características das papeleiras da Comlurb, à exceção de um detalhe: o nome do Condomínio Bar Vinte, escrito em cor branca, deixa evidente a omissão da prefeitura, que há dois meses retirou o equipamento do local e não substituiu. As reclamações sobre o sumiço de lixeiras se estendem por toda a cidade. No último ano, cerca de 21 mil papeleiras desapareceram das ruas do Rio. Em novembro de 2017, a Comlurb contabilizava 51 mil cestas instaladas. Um ano depois, o número caiu para 30 mil. A redução foi de 58%.
De acordo com a companhia, de 2012 a fevereiro de 2018 foram instalados 64.616 equipamentos na cidade. Desse total, mais de 13 mil foram alvos de vandalismo. Outros cerca de 17 mil foram retirados por desgaste de material (72%), furtos (18%) ou por terem virado sucata (10%). As papeleiras têm uma vida útil de cinco anos e a prefeitura afirma que "está em processo de licitação para a compra de 10 mil papeleiras para repor as perdas". Enquanto isso, a população se vira como pode.
— A síndica viu o acúmulo de lixo na calçada e decidiu comprar a lixeira. Eu mesmo que instalei, e coloquei o nome para saberem que foi o condomínio. Tem funcionado bem. Agora, a rua não está mais tão suja — disse José Francisco Linhares, de 46 anos, porteiro do condomínio Bar Vinte, na Avenida Henrique Dumont.
Em Copacabana, um levantamento feito por moradores aponta que pelo menos 44 papeleiras desapareceram na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre as ruas Bolívar e Princesa Isabel. Quem passeia pelo trecho de cerca de dois quilômetros enfrenta dificuldades para dar o destino correto ao lixo.
— Estou andando há dez minutos e não encontro uma lixeira — desabafou o estudante Rodrigo Barnabé Freitas, de 23 anos, que após fazer um lanche tentava descartar guardanapos e um copo.
SOLUÇÕES IMPROVISADAS
Não foram só os moradores do condomínio de Ipanema que se viraram para resolver o problema. Ao longo da Avenida Rio Branco, no Centro, em pelo menos três pontos os postes onde antes estava instaladas papeleiras agora servem de apoio para sacolas plásticas ou caixas de papelão que fazem o papel de coletar o lixo dos pedestres. Uma dessas lixeiras improvisadas fica em frente ao número 133 da movimentada avenida.
— Assim, pelo menos, as pessoas não jogam no chão. É um jeito de ajudar a não sujar ainda mais a cidade — diz o advogado Rodrigo Freitas, de 33 anos, que passa diariamente pelo local.
Em nota, a Comlurb diz que remove papeleiras periodicamente para limpeza ou conserto. "A própria Companhia consegue recuperar algumas, dependendo do tipo de dano (...) Quando muito danificadas, sem chance de conserto, são retiradas e entram na programação para reposição". De acordo com a nota, cada papeleira custa em torno de R$ 70. "É preciso que os usuários respeitem mais o patrimônio público não só por questão de educação, mas também porque a sua destruição gera gastos para os próprios usuários".
SOBE O NÚMERO DE MULTAS
Enquanto o número de lixeiras instaladas na cidade diminuiu, a quantidade de multas aplicadas pelo programa Lixo Zero aumentou no último ano. De agosto de 2016 a 2017, foram 31.663 multas aplicadas. Já de agosto de 2017 a agosto de 2018 foram 35.473, um aumento de 12%.
O programa, lançado em agosto de 2013, permitiu que a Guarda Municipal e a Comlurb fizessem a fiscalização da Lei de Limpeza Urbana, que estipula multa para qualquer tipo de infração que esteja em desacordo com ela, inclusive o descarte irregular de pequenos resíduos.
A multa para quem joga lixo na rua é de R$ 205,60. De acordo com a Comlurb, desde o lançamento do programa foram aplicadas 199.625 multas, que totalizam um valor de R$ 80.9 milhões. Desse montante, foram pagos R$ 29.5 milhões.
Os bairros com maior incidência de multas são Centro, Copacabana, Ipanema, Leblon e Campo Grande.
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