Em escassez, caçambas de lixo da Comlurb são disputadas nas praias
Antes disponibilizados pela companhia, contêineres desapareceram da orla
RIO - Habituais no visual das praias cariocas, os tradicionais contêineres de lixo da Comlurb de cor laranja sumiram de parte da orla. O prejuízo fica todo para a areia — tomada pelos restos. As cestas que as barracas são obrigadas a disponibilizar não dão conta da quantidade de resíduos gerados pelos banhistas. O problema começa a afetar também o turismo, incomodando quem visita o local.
— Todo dia chega um turista reclamando que tem lixo na areia, na calçada e no mar e decide ir embora — reclama o responsável por uma barraca na areia de Ipanema, Arthur Couto, e complementa — Catar o lixo virou parte da nossa função, nós temos que cuidar da cidade por conta própria.
De acordo com a Companhia, algumas unidades foram recolhidas para manutenção visando garantir a reposição delas em boas condições de uso durante o verão, incluindo o réveillon, e o período de férias e carnaval.
O GLOBO percorreu o trajeto do posto 10 ao posto 8 da praia de Ipanema e encontrou apenas uma caçamba da Comlurb ao longo dos 1,5 km de extensão. O contêiner, parcialmente quebrado, era a única lixeira numa faixa de cinco barracas e para ficar no local gerou confusão.
— Pegamos ali no calçadão às seis da manhã e veio gente querendo bater no meu filho. Ter uma lixeira virou motivo para briga — relata o ambulante, Alfredo Mattos, morador do Cantagalo.
Antes das 12h algumas cestas de lixo já estavam lotadas Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo |
Guardando o lixo ao lado da cadeira de praia, o médico Dante Abreu, morador do bairro de Ipanema há 10 anos, mostrou-se indignado com a situação de escassez das caçambas.
— Nunca vi uma situação assim, não tem onde colocar o lixo. Pagamos impostos pra nada.
Pelo calçadão o problema se repete. Alguns quiosques não têm mais as lixeiras da Comlurb e precisam comprar caçambas com a Orla Rio - concessionária responsável pela administração de mais de 300 quiosques nas praias cariocas. O equipamento adquirido seria o suficiente para o dia inteiro de trabalho, não fosse o lixo despejado pelas barracas das areias.
Sem auxílio da prefeitura, os contêineres são comprados para ser uma opção ao comércio, mas se tornam o point do lixo. A mudança, segundo ele, começou há cerca de um ano. Antes, as caçambas eram disponibilizadas normalmente pela Comlurb.
— Agora lixo na areia é tomado pelo mar e as pessoas ficam propensas a pegar doenças. A gente pede por um aumento no número de coletas, mas não acontece — lamentou Milton dos Santos, dono de um quiosque que acumula o lixo de outras oito barracas naquela faixa da orla.
Objeto de disputa, há quem aceite pagar para ter uma caçamba de lixo. Em Copacabana, um turista teve de sair do calçadão e caminhar até perto do mar para jogar o lixo fora. O contêiner da Companhia não estava ali por acaso.
— Nós damos uma ajuda para eles. Aí eles nos ajudam — comentou o ambulante que não quis se identificar.
Procurada, a Comlurb disse manter em toda a orla do Rio de Janeiro, 1.400 contêineres de 120 e 240 litros na faixa de areia. Ao longo do calçadão, nos quiosques, há mais 1.500 de 240 litros. O número, no entanto, engana. Grande parte das caçambas já foi furtada e outras tantas recolhidas por estarem danificadas e sem condições de uso, por conta de vandalismo. Em nota, a Companhia informou que realizou nova licitação e está aguardando homologação para aquisição de mais unidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário