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domingo, 3 de fevereiro de 2019

A verdade surge através do exame e do questionamento

“Sentinelas” são procedimentos, conceitos, rotinas que continuam sendo feitos somente por serem consideradas verdades inquestionáveis. Persistem mesmo que a razão de sua existência não exista mais. Da mesma forma, sentinelas podem surgir pelo abandono de procedimentos, conceitos, rotinas que ainda tem razão para sua existência!

Em nome de uma autoestima institucional exacerbada somos refratários à novas idéias e amantes de nossos sentinelas. Aceitamos como verdade absoluta o que nos chega sem qualquer exame ou questionamento.

O conceito de sentinela é semelhante ao apresentado no artigo a seguir, adaptação do livro Buda Rebelde por Dzogchen Ponlop, onde Buda ensina que "precisamos verificar quaisquer apresentações da verdade que se pretendam genuínas".

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Os 6 ensinamentos mais importantes do Buda


Na qualidade de pessoas modernas e racionais vivendo na era da ciência, gostamos de pensar que as nossas crenças são embasadas em coisas como experiência, bom julgamento e raciocínio, não em uma fé cega.

Fé cega é algo que pensamos se aplicar apenas pessoas ingênuas das coisas do mundo, mas se examinamos de forma honesta as nossas presunções comuns, descobrimos que muitas de nossas crenças vêm simplesmente de coisas que nos contaram e que, então, tomamos como certas.

Fé cega significa aceitar sem compreender. Não questionar as coisas já rotuladas! Também não vemos o poder que rótulos têm para moldar o nosso pensamento ou limitar a nossa compreensão. 



O conselho que o Buda nos dá é desafiar a fé cega no exato momento em que ela se manifesta. Ele também aconselha que, para descobrir o que realmente está acontecendo em qualquer nível da realidade, temos de focar a nossa experiência com uma sabedoria discriminativa. É sempre bom lembrar que, em um dado momento, todos acreditavam que a Terra era plana e que o Sol girava a seu redor.

Ironicamente, a ciência moderna se tornou, de certa forma, a nossa religião coletiva. Tendemos a acreditar no que os cientistas nos dizem sobre a realidade física, sem pensar duas vezes. 


Um dos ensinamentos mais importantes concedidos pelo Buda é uma afirmação simples e de bom senso, que carrega profundas implicações para a nossa vida em sociedade. Os habitantes de um vilarejo questionaram Buda sobre como saber no que acreditar, já que muitos professores e eruditos promulgavam vários sistemas de crença e doutrinas conflitantes entre si.









Assim, Buda aconselhou:


  • Não acredite em nada apenas porque ouviu.
  • Não acredite em nada apenas porque foi dito e repetido por muitos.
  • Não acredite em nada apenas porque está escrito nos livros religiosos.
  • Não acredite em nada apenas embasado na autoridade de professores e anciões.
  • Não acredite em tradições apenas porque elas se mantiveram por muitas gerações.
  • Mas, se após a observação e a análise, restar algo que coadune com a razão e que leve ao benefício próprio e de outros, então acate e viva de acordo com isso.


O que Buda quer dizer é que precisamos verificar quaisquer apresentações da verdade que se pretendam genuínas.

Devemos questionar o raciocínio e a lógica ali contidos, com o nosso intelecto. Devemos analisar do início ao fim, por dentro e por fora. Se descobrirmos que é bastante razoável, útil e que ajuda não só a nós como aos outros, então podemos aceitá-lo.

O Buda diz: “… então acate e viva de acordo com isso.” Esse ensinamento é importante, porque é possível — de fato, é bem comum — ouvir e até aceitar um ensinamento profundo sobre, por exemplo, o aquecimento global, mas é muito raro viver de acordo com as suas implicações.

De início, ficamos muito entusiasmados, mas depois não damos prosseguimento a esses ensinamentos. Isso ocorre porque não os examinamos de forma a realmente entender o que significam. Enquanto a nossa compreensão é vaga, temos dúvidas. Então, se há alguma sabedoria ali, nunca chega a nos tocar de forma relevante.

O que Buda quis dizer é que a solução para as nossas dúvidas não é adotar a fé cega dos crentes. Pelo contrário, há uma certeza inabalável que só surge de uma confiança completa em nossa compreensão, obtida a duras penas, sobre a natureza das coisas. Confiamos nessa compreensão, porque chegamos a ela investigando por nós mesmos. Dessa perspectiva, podemos dizer que a fé genuína é simplesmente a confiança em nós mesmos, em nossa inteligência e compreensão, confiança que se estende ao caminho que estamos trilhando. Mas precisamos encontrar o nosso próprio caminho: não há caminho “tamanho único”.

Descobrimos o nosso caminho particular através do exame e do questionamento, e com o nosso genuíno coração questionador. Podemos confiar na sabedoria do Buda como exemplo, mas para abarcar a sabedoria dentro de nós mesmos, precisamos confiar em nossa mente de buda rebelde.


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