‘Pretendemos levar a coleta
seletiva a todos os 160 bairros’, diz Vinicius Roriz
Levar a
coleta do lixo reciclável a todos os 160 bairros da cidade — hoje são apenas 42
— e melhorar a limpeza de favelas são as principais metas do novo presidente da
Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), o economista Carlos Vinicius
de Sá Roriz. Aos 43 anos, este morador da Barra assume pela primeira vez um
cargo da administração pública. De 1994 a 2006, atuou em várias funções na
Ambev. Depois, abriu uma empresa de consultoria de gestão e, mais recentemente,
foi contratado pela EBX, de Eike Batista. Filho e irmão de jornalistas, Roriz
admite ainda estar tomando ciência do novo desafio, mas promete fazer uma
gestão marcada pela austeridade e pela criatividade na execução de um orçamento
de R$ 1,24 bilhão para 2013, o quinto maior da prefeitura do Rio.
Como surgiu o
convite para assumir a Comlurb?
O Rio tem um
conselho que reúne empresários e personalidades, como o Beto Sicupira,
acionista da Ambev, e o Paulo Ferraz (do Grupo Bozano). Ambos têm ligações
comigo. Então eu tive uma série de conversas com essas pessoas, e assim surgiu
o desafio. Colaborar para dar um salto de qualidade na empresa é algo que me
motiva muito.
Depois de anos na
ponta da distribuição de bebidas, o senhor agora vai atuar no lado oposto, do
recolhimento desse material...
É muito
interessante, porque a mecânica é a mesma. Numa indústria de bebidas, temos as
fábricas, um centro de distribuição e, depois, os pontos de venda. Na Comlurb,
fazemos exatamente o caminho inverso.
Que Comlurb o
senhor encontrou?
Fiquei muito bem impressionado.
A Comlurb tem uma história de boas gestões. Hoje eu vejo a empresa com
oportunidade de ganhar eficiência. Ainda no primeiro semestre, vamos licitar a
contratação de uma empresa para fazer o planejamento estratégico para os
próximos anos, com metas. Na Ambev, a gente costumava dizer que custo é que nem
unha: tem que cortar todo dia. A missão é realocar recursos para uma melhor
prestação de serviços. Com certeza dá para enxugar, com revisão dos processos
administrativos e operacionais. Vamos melhorar o atendimento nas favelas. Hoje
o recurso que aplicamos para fazer a coleta tem uma lacuna de eficiência. Nós
seguimos uma roteirização dos caminhões baseada num estudo de 20 anos que
precisa ser atualizado. É preciso pensar fora da caixa. A Envac, que fez o
sistema de transporte de lixo por dutos subterrâneos de Barcelona, acredita que
existe a possibilidade de fazer isso numa comunidade do Rio. Temos que buscar
novas soluções para atender a um problema complexo. Portugal e Espanha são boas
referências.
A coleta seletiva
da Comlurb recolhe somente 0,27% do lixo gerado diariamente. No entanto, a
Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece prazo máximo até agosto de
2014 para que as cidades só joguem em aterros o que não for possível reciclar.
O Rio vai cumprir a meta?
Vamos empenhar
todos os esforços. A prefeitura se comprometeu a ampliar para 25% a coleta do
lixo potencialmente reciclável até 2016 (algo como 288 toneladas, ou 3,5% de
todo o lixo gerado na cidade diariamente). É um megadesafio, já que hoje nossa
coleta seletiva chega a 25 toneladas/dia. Algumas iniciativas serão
continuadas, como o convênio com o BNDES para a construção de seis galpões de
reciclagem. Um já está pronto, o de Irajá. Precisamos manter o investimento na
coleta seletiva. Hoje nós cobrimos 42 bairros (parcialmente) e, até o final de
2016, pretendemos levar a coleta seletiva para todos os 160 bairros cariocas.
Na Europa, cada
embalagem tem os custos de reciclagem bancados pela empresa que colocou o
produto no mercado. Dá para avançar no Brasil?
Sem dúvida. A
iniciativa privada tem nos procurado para estabelecer parcerias. Isso já está
em discussão.
A Comlurb hoje pode
multar o cidadão que joga lixo na rua? Por que não retomar campanhas como a do
Sujismundo, dos anos 70?
Não temos
mecanismos para multar com eficiência. Em alguns países, quem joga papel no
chão paga multa na hora. Aqui, a multa aplicada não tem consequência efetiva.
Vamos discutir mudanças na legislação. Sobre a educação, de fato não temos hoje
uma comunicação efetiva na televisão. Temos que reforçar, mas é um trabalho de
longo prazo.
A taxa de lixo hoje
é embutida no IPTU. Essa lógica faz sentido?
A métrica pode ser
melhorada, evidentemente. Alguns países, como Portugal, adotam medidas nas
quais o cidadão paga pela frequência com que coloca o lixo na porta. O ganho
logístico é enorme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário