Por NADEDJA CALADO
Viviane Nascimento trabalha em Irajá - Daniel Castelo Branco / Agência O DIA |
Rio - No dia 16 de maio é comemorado nacionalmente o Dia do Gari, oportunidade para homenagear e reconhecer o trabalho dos responsáveis por manter a limpeza de ruas, hospitais e escolas públicas, parques, praias e demais áreas urbanas. No Rio de Janeiro, além da missão profissional, os trabalhadores da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) viraram ícones de bom humor e cultura carioca, além de transformarem o "laranjinha" dos uniformes, equipamentos e caminhões em parte indispensável da paisagem da cidade.
Quem já representou a Comlurb é a gari Marcielle Adão, 34, na profissão há dez anos. Ela carregou a Tocha Olímpica nos jogos Rio 2016, e dirige as minivarredeiras do Sambódromo no Carnaval. "Entrei na profissão por influência do meu marido, gari há 15 anos. Ele falava com muito entusiasmo da profissão, e decidi fazer o concurso. Demorou dois anos para me convocarem, recebi a carta da Prefeitura na véspera de Natal, enquanto fritava rabanada. Foi meu presente de Deus e de Papai Noel", brincou ela, que é encarregada da limpeza de uma maternidade pública. "Tem muito preconceito. Às vezes olham e perguntam 'por que você não estuda? Vai fazer algo melhor', sendo que é um trabalho digno e honesto. Em limpeza de hospitais, a gente inclusive salva vidas. Sem uma boa limpeza, a operação é impossível", lembrou ela, que é técnica em Patologia Clínica e hoje faz faculdade de Serviço Social.
E pode parecer que a profissão de gari - acessível através de concurso público de nível médio - é para profissionais de baixa qualificação, mas garis técnicos, graduados e até mesmo pós-graduados não são raros. É o caso de Carlos Henrique da Fonseca, 33, na Companhia há três anos e formado em Gestão Ambiental. "Trabalhava como representante comercial em um escritório, e tenho cursos nas áreas de administração, agropecuária, informática, sou bombeiro civil, de tudo um pouco", contou. "E estou satisfeito com a profissão, acho mega divertido, conheço muita gente diferente, e me sinto valorizado. Sofri preconceito ao deixar o escritório apra trabalhar com isso, mas o trabalho é importante", completou ele, que também realiza projetos de sustentabilidade ambiental e tem uma empresa de ecoturismo.
Gari tatua caminhão da Comlurb - Divulgação |
A paixão pela profissão da gari Thaís dos Santos é visível a olho nu: há quase 4 anos na Comlurb, ela tatuou um caminhão de coleta no braço. "Quando fiz 21 anos, ganhei uma tatuagem de presente, e o tatuador falou para eu escolher algo de que gostasse. Foi muito espontâneo dizer que eu gosto é do caminhão em que eu trabalho", disse, empolgada. Ela conta que enfrenta preconceito por atuar no caminhão de coleta, trabalho que, até poucos anos atrás, era exclusivamente masculino. "Eu adoro, porque é um trabalho pesado e eu sou meio hiperativa. Não tenho vergonha do que faço, tudo o que conquistei foi com esse trabalho. Sempre tem preconceito, mas a maior parte das pessoas admira e respeita. As crianças acham legal, até os bebês, quando vêem o laranja da roupa, ficam felizes, gosto muito do carinho que os cidadãos têm pela gente", comemorou.
A rotina pesada é comum a todos eles. O gari Jorge Filho, 32, que também é lutador, sai diariamente de casa no Realengo, Zona Oeste, rumo a Acari, na Zona Norte, onde dá aula de luta para crianças em um projeto social. Depois do descanso, segue para a Rocinha, onde trabalha no caminhão de coleta, e após o fim do expediente volta a Acari para encerrar as aulas da noite. "O gari é um funcionário público amado, a cidade tem necessidade do nosso trabalho. Não dá para imaginar o Rio de Janeiro sem esse cara de laranja passando no fundo", riu ele. Segundo ele, o trabalho pesado vale a pena pela contribuição com a comunidade. "Dou conta das duas coisas por isso. Contribuo com a cidade, e posso me dedicar a dar oportunidades a crianças, criando atletas ou, no mínimo, campeões como seres humanos, que é o mais importante", afirmou.
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