Rafael Rodrigues e Maria del Carmen Zilio, da PVDI Design, dividiram a
tarefa de reformular a imagem da Comlurb em 1975
17/05/2015 6:00
Os garis no desfile de 7 de setembro,
em 1985 - Divulgação / Comlurb
RIO — O ano era 1975 e a companhia responsável pela limpeza da cidade
convivia com um problema: apesar de contar com várias equipes e caminhões
trabalhando nas praças e vias públicas, a população carioca não percebia a
presença nem dos funcionários, nem dos carros e equipamentos da empresa nas
ruas. À noite, eram comuns casos de garis atropelados por não serem vistos
pelos motoristas. Como quem não é notado não é lembrado, o prefeito Marcos
Tamoio achou que a companhia precisava vencer esta “invisibilidade”. E decidiu
usar ferramentas do marketing e do design. Convidou, então, o escritório PVDI
Design, do renomado Aloísio Magalhães, para mudar toda a imagem da empresa, que
acabara de ser municipalizada.
Depois de visitar depósitos de lixo e acompanhar a rotina de garis pelas
ruas, a equipe de designers descobriu que se tratava de uma mera questão de
cor. O tom cinzento do tecido do uniforme dos garis e da tinta que recobria os
caminhões de coleta de lixo “escondia” a Companhia de Limpeza Urbana do
Município (Comlurb). A solução era destacar funcionários e equipamentos com
cores mais chamativas. Nascia ali o uniforme laranja dos garis.
Um dos criadores do projeto de nova identidade visual da Comlurb foi o
arquiteto e designer Rafael Rodrigues, de 74 anos, que dividiu com a designer
Maria del Carmen Zilio, de 70, o desafio de dar uma roupagem moderna à empresa
que prestava um serviço nada glamouroso.
— A ideia principal era dar mais segurança para o trabalho deste gari na
rua. Criamos algo inovador: os uniformes eram de cor laranja, com faixas
brancas nos braços. Como os garis trabalhavam nas ruas varrendo, as duas
faixas, com o movimento dos braços deles, faziam uma espécie de sinalização.
Isso diminuiu muito o número de acidentes — conta Rodrigues, que começou no
escritório PVDI em 1964, como estagiário.
Em 1973, dupla de garis trabalha com
o antigo uniforme cinza, que não se destacava na rua
Paulo Moreira (24/04/1973)
Das pranchetas de Magalhães e sua equipe saiu a programação visual com
as novas cores da Comlurb: azul, branco e o inesquecível laranja. Além de
algumas inovações que duram até hoje e ajudaram a fixar e a divulgar a marca,
transformando a figura do gari num dos símbolos cariocas mais populares do
país. Este caso de sucesso é um dos que ilustram o livro “Comlurb 40 anos – uma
memória da limpeza urbana”, que conta a história das quatro décadas da empresa,
lançado na última sexta-feira.
O projeto previu, também , mudança no estilo dos uniformes, mais
adequados ao trabalho nas ruas.
— Anteriormente, todos trabalhavam com o mesmo tipo de uniforme, cinza,
de tecido pesado, e com calças compridas. Nos dias de calor, eles sofriam.
Criamos quatro ou cinco modelos, incluindo um para os garis que varriam as
praias, com bermudas e camisetas em gola V — recorda Maria del Carmen Zilio.
CABINE BRANCA ENCONTROU RESISTÊNCIA
O escritório também mudou a aparência dos caminhões: as cabines foram
pintadas de branco e as caçambas, de azul. A ideia inicialmente encontrou
resistência entre alguns funcionários.
Em 1978, a lixeira e o carrinho com o novo logotipo aplicado -
Divulgação / Comlurb
— Teve gente que reclamou, alegando que a cabine branca ia ficar suja.
Mas um dos encarregados disse que era justamente o contrário: como o caminhão
deveria ser lavado todos os dias, a cor branca não ia esconder a sujeira e os
funcionários teriam que limpar bem as cabines — conta o designer, um dos sócios
do PDVI Design.
Numa estratégia de marketing, depois que o projeto foi aprovado a
companhia agiu rápido para que a nova cara da Comlurb fosse logo percebida.
— Eles mandaram pintar os 500 caminhões em tempo recorde e, em cerca de
duas semanas, as ruas foram tomadas pelos veículos com novas cores e novo
logotipo — diz.
Segundo Vinícius Roriz, presidente da Comlurb, nesses últimos 40 anos o
projeto conceitual de Aloísio Magalhães e sua equipe foi mantido.
— Foram feitas apenas algumas adequações e modernizações. As faixas
brancas dos uniformes, por exemplo, agora são em tecido com material reflexivo,
que não existia na época.
UNIFORME VIROU MARCA REGISTRADA
O uniforme laranja deu tão certo, que virou marca do gari carioca. Nos
últimos 40 anos, algumas mudanças, no entanto, precisaram ser feitas, seja por
questões de segurança ou para aumentar o conforto dos profissionais. Em 1998,
as faixas brancas, que só existiam nos braços, passaram a ser aplicadas nas
barras das calças. E o tecido passou a ser reflexivo, aumentando a visibilidade
do gari à noite.
O presidente da Comlurb, Vicente Roriz, lembra que em 1993, em função do
crescimento da cidade, a companhia decidiu usar a cor laranja nas caixas
coletoras de rua e contêineres, ajudando a dar maior visibilidade também aos
equipamentos de limpeza urbana:
— Antes, tínhamos aquelas lixeiras azul de metal, chumbadas no chão.
Quando começamos a usar lixeiras de plástico, presas em postes, começamos a
usar as de cor laranja.
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