Autor(es): Duda Teixeira
Veja - 15/10/2012
O suíço especialista em
recrutamento Egon Zehnder diz que a falta de qualificação dos funcionários
públicos nomeados por padrinhos políticos chega a ser mais danosa do que a
corrupção. Defensor apaixonado da meritocracia, ele critica a proliferação de
cargos de confiança na administração pública brasileira. Nenhuma nomeação de
diretor de estatal ou de autarquia deve ser 100% política.
A escolha errada de um
funcionário de alto escalão traz mais consequências indesejadas em instituições governamentais. Elas têm um papel na
sociedade que vai muito além dos interesses econômicos dos acionistas. Um erro
na nomeação reduz a possibilidade de a empresa estatal ou o órgão público
desenvolver seu papel social e limita a capacidade do país para alcançar seus
objetivos estratégicos.
Uma pesquisa publicada na revista
da Harvard Business School em 2001 mostrou que, entre os diversos fatores que
determinam o desempenho de uma empresa e que podem ser controlados, a seleção
dos gestores é a que tem a maior relevância estratégica. A escolha certa do
presidente de uma empresa pode ter um impacto positivo de 40% no seu resultado.
Estatisticamente a corrupção é
menos nociva do que a escolha de um gestor ineficiente. Uma companhia que possui um quadro de
pessoal sem brilho produzirá uma fração de uma concorrente cheia de talentos. É
absolutamente necessário combater a corrupção, mas também se deve evitar o
escândalo oculto das nomeações de funcionários incompetentes, cujos efeitos chegam a
ser piores do que os desvios éticos.
De modo geral, quanto mais o
conceito de meritocracia está enraizado em uma sociedade, menos provável é que
a população aceite pessoas ineptas para ocupar funções executivas. Meritocracia
é um valor que anda de mãos dadas com os níveis de ensino. Uma
sociedade bem-educada entende mais claramente as consequências desastrosas das
nomeações erradas. Um ministro sem credibilidade em seu campo de atuação ou sem
habilidade para montar uma boa equipe pode paralisar os serviços públicos sob
sua responsabilidade.
O consultor americano Jim Collins
enumerou vários fatores que levam uma organização a obter sucesso. Colocar um
grande líder no topo do organograma é apenas um deles. Também conta a
capacidade de demitir os piores funcionários e manter os melhores. De
preferência, nas posições certas. Uma companhia sem liberdade de dispensar
as pessoas que não atendem às expectativas obviamente terá de operar de forma
precária. Nessas situações, a qualidade dos produtos e dos serviços quase
sempre é ruim. Um contexto em que é quase impossível demitir os funcionários não
faz sentido no sistema capitalista. Nos países em que foram adotadas medidas
para facilitar os processos de demissão, as empresas privadas e públicas
ganharam competitividade.
As situações de crise extrema são
uma exceção um tecnocrata, ou seja, um economista ou um administrador
qualificado para a gestão pública pode tomar uma série de decisões polêmicas e
urgentes que seriam extremamente difíceis para os políticos tradicionais. Em longo prazo, os tecnocratas
devem ocupar apenas cargos de nível ministerial para baixo.
Singapura, uma cidade-estado com 5 milhões de pessoas, conseguiu
formar alguns dos melhores executivos do mundo. Os fundadores de Singapura
decidiram que, por serem pobres em recursos naturais e terem um mercado interno
restrito, a única saída econômica era investir no talento humano. Então,
enviaram os estudantes mais promissores às melhores universidades no exterior e
por fim os contrataram para trabalhar dentro do governo. Depois de décadas de
decisões acertadas no setor público, Singapura se tornou uma das nações mais competitivas do planeta. Esse
processo disciplinado de formar, selecionar, e reter os melhores talentos na
administração pública levou a uma transformação incrível. Singapura comprovou que a meritocracia no governo tem ótimos resultados. Esse
caminho não foi o escolhido, por exemplo, pela Jamaica. Os dois países deixaram
de ser colônia inglesa ao mesmo tempo, no início dos anos 1960. Eram duas
nações situadas em ilhas subtropicais, igualmente pobres e com populações equivalentes. O que é
a Jamaica hoje? Um país irrelevante.
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